segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

De volta ao trabalho

Acho que, de alguma maneira, desconfiaram que eu voltaria a trabalhar me sentindo mais ampla e precisando de mais espaço. Quando digo “ampla”, não estou falando dos 2kg que infelizmente andei ganhando quando retornei da Europa, por conta da minha ansiedade de ficar em casa sem fazer nada. Refiro-me ao quanto mais elevada, abrangente e profunda (ou seja, maior em todas as direções) estou após retornar de viagem.

O meu computador novo (fizeram um remanejamento de lugares na Redação durante as minhas férias) possui uma mesa que se alonga bastante para o lado direito. Muito mais do que no meu cantinho anterior. Quando cheguei hoje ao trabalho, era cedo (antes de 8 horas da manhã), a sala estava quase vazia, e tive vontade de me esparramar naquela imensidão de mesa. Talvez para me sentir acolhida de volta.

Mas isso foi apenas um pensamento passageiro. É impressionante como a gente tem mania de reprimir nossas idéias espontâneas. Teria sido legal simplesmente ficar deitada ali um pedacinho... Mas tive vergonha. Pensei: “Vai que alguém aparece e me encontra toda esticada, como um gato preguiçoso?”.

Quando as pessoas começaram a chegar e o expediente engrenou, fui percebendo que aqueles centímetros a mais do meu lado direito não adiantariam de muita coisa. Nem o local inédito para mim, com outros vizinhos de trabalho (com exceção da Ká, sempre maravilhosamente constante), foi capaz de absorver bem essa nova Ticiana que se desenha aos poucos.

Enquanto a mutação se processa em mim, as gavetas do móvel continuam cheias de papel – assim como as havia deixado; e a caixa de emails a me pedir o mesmo tipo de atenção de outrora. Se pelo menos tivesse me esticado um pouco de manhã cedo, poderia ter me sentido melhor...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Não. Não. Não... Nããão! NããÃÃÃOOO!

Definição no Aurélio: advérbio que exprime negação ou recusa.

Na nossa linguagem do dia-a-dia pode ser substituído por: nãm, neim, “no way”, “na na nina nina”, um simples gesto de balançar a cabeça para os dois lados, a mesma ação com o dedo indicador, dentre outras opções.

Mas que ninguém julgue essa palavra pelo seu tamanho “mini” e estado de monossílabo. Aqui, ocorre o exemplo prático do ditado que diz: “nos pequenos frascos estão os grandes perfumes”. Afinal, o poder de um “não” é incomensurável. Um “não” bem pronunciado – digo, expresso com confiança e firmeza- é divisor de águas e define os rumos dos próximos capítulos dessa trajetória que chamamos de VIDA.

Talvez, por ter consciência das possíveis conseqüências de um “não” é que o ser humano possui tanto medo de ouvi-lo. Até porque, chegue ele calmo, tímido, suave (aqueles carregados de pena são tenebrosos!) ou mesmo de forma avassaladora, o “não” costuma ter um efeito colateral não muito agradável (uso aqui de eufemismo gritante!) em quem o escuta e pede, normalmente, uma mudança de atitude imediata e sofrida (mesmo que em diferentes graus). Não posso me esquecer de citar, ainda, aqueles constrangedores “nãos” ditos por uma multidão em uníssono (dá até arrepios só de imaginar a cena. Cruzes!).

Aí, você que lê esse tratado sobre um advérbio tão impactante pára agora e diz um “não” para mim. Podia um post ser mais interativo? :o) Em seguida fala: “Não, Ticiana, você está equivocada. Nem sempre um “não” significa opressão. Nem sempre ele é encarado de um modo problemático e nem sempre leva à dor e a conseqüências negativas”. Aí, continua sua análise, já empolgado com seus próprios pareceres: “veja o que ocorre nesse momento. Você acabou de se alegrar (ao contrário de se entristecer ou se ressentir) com o “não” que te dei, já que, como mesmo afirmou, a minha opinião deixou o seu post ‘mais interativo’. Certo? Além do mais, o meu ‘não’ e sua posterior justificativa agiram como um enriquecimento aos seus pensamentos sobre a própria palavra ‘não’, o que torna o meu ‘não’ um ‘não positivo’. Certo de novo?”.

Nessa hora, eu páro, dou um sorriso vagaroso e sincero. Depois respondo sabe o quê? Um "sim". “Sim, querido leitor, você tem razão, mas saiba que em nenhum momento quis diminuir o poder atuante do ‘não’. Na verdade, você que se apressou em defendê-lo, pois eu tinha a intenção de chegar ao ponto de trazer à tona essa outra faceta do nosso advérbio em questão".

O “não” pode até, dependendo dos casos, servir de redenção e alívio. Pensem comigo. Uma adolescente com suspeita de gravidez, temendo que um bebê fora de época mude todo o curso de sua vida, ao ver que o resultado do exame deu “negativo” (ou seja, ao receber um “não”), vai sentir o quê? O bendito alívio. Existem, como esse, vários outros exemplos de um “não bem-vindo”. Um “não” quando se quer saber se vai haver trabalho em pleno feriado; um “não” de um parente indesejável ou maçante ao desmarcar uma visita à sua casa (ele diz: “não vou poder ir”); um “não” em questões comerciais quando você é o beneficiado, do tipo: “para parcelar essa compra não é preciso nenhum valor de entrada”. Poderia passar horas enumerando esses “nãos positivos”...

Mas nada de ilusão. Não sou Poliana e creio que o peso do “não negativo” é maior. Nossa, o tamanho da cratera que fica em um coração quando se ouve: “eu não te amo mais” ou “eu não agüento mais olhar na tua cara” ou ainda “não vai dar certo você ser chamada para realizar algo diferente porque fica muito complicado...”. Essa última frase vocês não precisam tentar compreender. Ela é para ser esquisita mesmo. Foi algo que escutei hoje, resposta de um desejo meu que fiquei sabendo que não se realizará. Desculpem, mas não posso ser mais clara. Nem tudo se coloca em um blog. Termino, acredito eu, com um “não castrador" desse espaço, mas preciso preservar a minha vida. Esse “não” pode ser frustrante também para você, certo, leitor? Perdão, mas às vezes, na verdade muitas vezes, o “não” também se faz necessário...